A Estrada Inglesa

1928

Com texto de Marco Antonio Deprá

Em 1925 a Companhia de Terras Norte do Paraná - CTNP adquiriu uma grande gleba de terras no Norte do Estado Paraná. Em seguida, contratou Alexandre Gutierrez Beltrão, para medir, demarcar e mapear as terras adquiridas. O trabalho do engenheiro se desenvolveu entre os anos de 1925 e 1928.

Neste período a CTNP, de posse dos primeiros mapas elaborados por Alexandre Gutierrez Beltrão, começou a planejar a colonização de sua área.

A princípio, a CTNP aventou duas hipóteses: colonizar as terras a partir do leste; ou a partir do oeste. 

Desde sua fundação em 1925, a CTNP já tinha conhecimento de que a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná já tinha suas três primeiras estações ferroviárias: Presidente Munhoz e Leoflora, inauguradas em 12/06/1924; e Cambará, inaugurada em 01/07/1925. Esta ferrovia poderia tornar-se importante caso a CTNP decidisse colonizar suas terras a partir do leste. Para esta proposta se viabilizar, a CTNP teria que adquirir a ferrovia a fim de atender aos seus interesses e reunir recursos para estender os trilhos através da área por ela adquirida.

Para analisar a hipótese de começar a colonização a partir de oeste, a CTNP construiu uma estrada de terra em uma das linhas de divisa de suas terras a partir do Porto Ceará, também conhecido como Porto Pirapó, situado no Rio Paranapanema, próximo à foz do Rio Pirapó, bem na divisa norte de suas terras.


Em branco as terras adquiridas pela CTNP e os caminhos de acesso a elas. Em verde a antiga Ferrovia Sorocabana, que ligava a região à cidade de São Paulo e ao Porto de Santos.

No início de 1928 a CTNP realizou uma expedição exploratória formada pelas seguintes pessoas:

Antonio Moraes de Barros, advogado e então Presidente da CTNP;

Arthur Thomaz, gerente administrativo de todo o empreendimento;

Louis Reed, engenheiro e consultor técnico;

Gastão de Mesquita Filho, engenheiro; e

Heitor Machado, grande conhecedor de terras e amigo de Antonio Moraes de Barros.

Nessa ocasião, a expedição partiu de São Paulo através dos trilhos da Ferrovia Sorocabana até Presidente Prudente. De lá, em dois veículos Ford, percorreu cerca de 100 quilômetros numa estrada em péssimas condições até atingir as margens do Rio Paranapanema, no porto hoje denominado Ceará. 

Após cruzar o rio Paranapanema em uma pequena balsa, a expedição tomou a estrada de terra que a própria CTNP já estava abrindo na direção norte-sul, em uma das linhas de divisas de suas terras.

Percorridos 30 km até uma pequena derrubada de mata virgem, a expedição hospedou-se em uma boa casa de madeira construída pela CTNP e considerada a primeira sede da empresa no Estado do Paraná. A casa havia recebido o nome de Hotel Pirapó. A estrada percorrida já ostentava o seu nome tradicional de “Estrada Inglesa". 


Localização do Hotel Pirapó. A Estrada Inglesa (em verde) tinha início do Porto Ceará no Rio Paranapanema, logo abaixo da foz do Rio Pirapó.


O Hotel Pirapó localizava-se nas cabeceiras do Ribeirão Inglês (1) às margens da Estrada Inglesa (em verde). Era considerado a primeira sede na CTNP no Estado do Paraná. Do outro lado do Rio Paranapanema (3), em frente ao Porto Ceará, existia o Porto Marcondes, em território paulista, logo abaixo da foz do Rio Pirapó (2).

O dia seguinte à chegada ao Hotel Pirapó foi dedicado a um justo repouso. No outro dia, pela madrugada, a expedição partiu com os veículos Ford por mais alguns quilômetros até o acampamento da turma que estava construindo a estrada. A partir daí os membros continuaram a expedição a cavalo através de um picadão aberto mata adentro.


A Estrada Inglesa (em verde) foi construída pela CTNP desde o Porto Ceara, no Rio Paranapanema, até o espigão que divide as águas do Rio Ivaí (3) e do Rio Pirapó (6): 
1 – Ribeirão Anhumaí 4 – Ribeirão Jacupiranga
2 – Ribeirão da Esperança 5 – Ribeirão Caxangá

Após analisar os dados colhidos durante a expedição, a CTNP optou em iniciar a colonização de suas terras pelo leste. A partir de então começou as negociações para adquirir a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná que acreditava ser fundamental para o sucesso do seu empreendimento.

Em 20/04/1928, através do Decreto Estadual nº 450, a CTNP recebeu a concessão para a construção de uma ferrovia até Guaíra (PR) e o privilégio de explorá-la por 90 anos. 

De posse da concessão, em 30/06/1928, a Paraná Plantations, vinculada à CTNP, adquiriu de Barbosa Ferraz e outros empreendedores a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná alterando sua denominação para Companhia Ferroviária São Paulo – Paraná.


A Estrada de Ferro Noroeste do Paraná já tinha estendido seus trilhos de Ourinhos até Cambará, longe das terras da CTNP (em branco). A partir deste ponto, a CTNP e suas empresas coligadas iniciaram o prolongamento dos trilhos até suas terras.


A pequena Estrada de Ferro Noroeste do Paraná com suas três primeiras estações ferroviárias.

A colonização das terras da CTNP teria início somente em 21/08/1929, quando 
o russo Alexandre Razgulaeff e o britânico George Craig Smith, chegaram à região onde hoje se situa a cidade de Londrina. Os trilhos da ferrovia chegariam a Londrina em meados de 1935. A estação ferroviária da cidade foi inaugurada no dia 28/07/1935.

A ocupação da área da CTNP deu-se a partir da Estrada Mestre, construída no sentido leste-oeste através das terras adquiridas pela empresa.


A colonização das terras da CTNP teve inicio em Londrina em direção a oeste através de Estrada Mestre (em marrom), rodovia não pavimentada construída no sentido leste-oeste no espigão divisor das águas dos rios Ivaí e Paranapanema. A Estrada Inglesa (em verde) encontra-se com a Estrada Mestre na atual cidade de Nova Esperança, anteriormente denominada Capelinha.

A colonização da região oeste das terras da CTNP deu-se apenas a partir da década de 1940.

Em 1956, prefeitos dos municípios da região, liderados pelo prefeito de Paranacity, sugeriram que o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná assumisse a conservação da “Estrada Inglesa”, entre Nova Esperança e o Porto Ceará, que já tinha um tráfego considerável de veículos.

Em 1963, o DER Paraná entregou ao tráfego a “nova” Estrada Inglesa, com cerca de 80 km de extensão. A estrada recebeu trabalhos de recuperação e melhoramentos. O tráfego diário era de 700 veículos. A estrada tinha 10 metros de largura total e 7,20 metros de pista, ainda não asfaltada.

Em 1967, o deputado federal João Paulino Vieira Filho e deputado estadual Miran Pirih cobravam o asfaltamento da Estrada Inglesa, que atendia aos municípios de Nova Esperança, Uniflor, Cruzeiro do Sul, Paranacity e Paranapoema.


Núcleos urbanos implantados pela CTNP ao longo da Estrada Inglesa dentro de suas terras: Nova Esperança, Uniflor e Cruzeiro do Sul. Outras pessoas ou empresas colonizadoras implantaram outros núcleos urbanos: Paranacity, Paraná Real (hoje extinto), Fiorópolis, Paranapoema e Jardim Olinda, todos ao longo da Estrada Inglesa, mas fora das terras da CTNP.

Em 18/04/1978 o governador Jayme Canet Júnior e o secretário Osires Stenghel Guimarães, dos Transportes, inauguraram a PR-463, ligando por asfalto a cidade de Nova Esperança ou Porto Santo Inácio, no Rio Paranapanema, numa extensão de 96 km. O evento coincidiu com o cinqüentenário da abertura da Estrada Inglesa.

A PR-463 seguiu em parte o traçado da Estrada Inglesa, de Nova Esperança até Paranacity. A partir daí, a PR-463 toma o rumo nordeste até atingir o Porto Santo Inácio, no Rio Paranapanema.


A PR-463 (em amarelo) seguiu praticamente o mesmo traçado da Estrada Inglesa (em verde), de Nova Esperança até Cruzeiro do Sul e Paranacity, quando toma o rumo nordeste, passando por Colorado até o Porto Santo Inácio, no Rio Paranapanema. A mudança no traçado da estrada contribuiu para a estagnação das cidades localizadas na região norte das terras da CTNP. 

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