Texto de Marco Antonio Deprá.
A Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP, colonizadora da região Norte do Paraná, fundou a cidade de Maringá em 10/05/1947.
Criado pelo urbanista Jorge de Macedo Vieira, o plano original da cidade previa a implantação de zonas residenciais, comerciais e industriais.
Coube aos técnicos da CTNP a implantação do projeto e a denominação dos logradouros da nova cidade.
Praças, ruas e avenidas receberam nomes de importantes personalidades e fatos históricos do Brasil e do Paraná.
Na Zona 4, por exemplo, parte dos logradouros lembravam personalidades e fatos ligados ao movimento abolicionista:
- Avenida Abolição;
- Avenida Rio Branco;
- Praça José Bonifácio;
- Rua Joaquim Nabuco;
- Rua José do Patrocínio;
- Rua Lopes Trovão;
- Rua Luis Gama;
- Rua Princesa Isabel; e
- Rua Rodrigo Silva.
A denominação da Avenida Abolição, que remete à Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, teve seu nome alterado para Avenida Cidade de Leiria, em homenagem à Colônia Portuguesa de Maringá.
A mudança ocorreu através da Lei Municipal nº 1867, de 19/03/1985, de autoria do vereador Anésio Carreira, e sancionada pelo Prefeito Said Felício Ferreira. Aquele logradouro situa-se próximo ao Clube Português de Maringá, ponto de encontro dos portugueses que residem na cidade. Naquele mês de março/1985, uma comitiva de Leiria visitou Maringá e, em 19/03/1985, participou da inauguração da urbanização da Praça Manoel Ribas. Durante aquele evento, o prefeito assinou a lei alterando o nome da Avenida Abolição, que tem início na Rua Fernão Dias e fim na Praça Manoel Ribas.
Em vermelho, o traçado da Avenida Cidade de Leiria, antiga Avenida Abolição, que começa na Rua Fernão Dias e termina na Praça Manoel Ribas, em verde. Fica próxima ao Centro Português de Maringá, em amarelo.
Leiria, cidade situada na província da Beira Litoral, em Portugal, havia sido declarada cidade-irmã de Maringá, por meio da Lei nº 1.599, de 05/11/1982, sancionada pelo prefeito Sincler Sambatti. A homenagem deve-se à família Moleirinho, originária daquela cidade, e que se estabeleceu em Maringá empreendendo o Frigorífico Luso Brasileiro Central, uma das mais importantes empresas da cidade durante as décadas de 1960 a 1980.
Em outra parte da Zona 4, e também nas vizinhas Zona 1 e Zona 9 (Armazéns), a CTNP nomeou logradouros em memória dos indígenas, primeiros habitantes do território brasileiro:
- Rua Tibiriçá, importante líder indígena tupiniquim dos primórdios da colonização portuguesa do Brasil, que se destacou nos eventos relacionados à fundação da atual cidade de São Paulo, em 1554;
- Rua Caramuru, alcunha do náufrago português Diogo Álvares Correia, que viveu entre os índios Tupinambás, no início do Século XVI, esposando Paraguaçu (ou Guaibimpará), filha do cacique Taparica;
- Rua Guarani, povo indígena que habitava boa parte do atual território paranaense;
- Rua Fernão Dias, bandeirante paulista caçador de índios e de esmeraldas;
- Rua Tupã, figura mitológica tupi-guarani criada por Yamandú, o Deus Criador, para controlar o clima, o tempo e o vento;
- Rua Yara, figura mitológica tupi-guarani, representada por uma linda sereia. O nome vem do tupi-guarani y-iara “senhora das águas”; e
- Rua José de Alencar, escritor autor da trilogia indigenista: O Guarani, Iracema e Ubirajara.
Com o passar dos anos, dois destes logradouros também tiverem suas denominações alteradas pela legislação municipal.
A Rua Tibiriçá, logradouro onde se situa o Clube Português de Maringá, teve seu nome alterado para Luiz de Camões, através da Lei nº 448, de 20/05/1966, de autoria do vereador Ary de Lima, e sancionada pelo prefeito Luiz Moreira de Carvalho, em memória do célebre poeta português, e em homenagem à Colônia Portuguesa de Maringá. O Centro Português de Maringá havia sido criado em 10/06/1964 e naquele ano de 1966 tinha acabado de adquirir um vasto terreno naquele logradouro, para ali instalar sua sede social.
Em vermelho o traçado da Rua Luiz de Camões, antiga Rua Tibiriçá, que começa na Praça Presidente Kennedy, em verde, e termina na Rua Luis Gama. A rua passa em frente à sede do Centro Português de Maringá, em amarelo.
A Rua Yara teve seu nome alterado para Rua Pedro Sanches, através da Lei Municipal nº 579, de 23/02/1968, de autoria do vereador Paulo Vieira de Camargo, e também sancionada pelo prefeito Luiz Moreira de Carvalho.
Em vermelho, a Rua Pedro Sanches, antiga Rua Yara, que começa na Rua Fernão Dias e termina na Rua Lopes Trovão.
A denominação da Rua Pedro Sanches homenageia o pioneiro maringaense Pedro Antônio Sanches, filho de José Sanches e Mariana Poixerunckas, nascido em 29/06/1900, em Anta Gorda, localidade à época pertencente ao Distrito de Encantado, no município de Lajeado, próxima à cidade de Bento Gonçalves, no noroeste do Rio Grande do Sul.
Seus avós paternos eram Francisco Sanches Callado e Antonia Bonacera, e seus avós maternos eram José Poixerunckas e Agostinha Haplinska.
Pedro Antonio Sanches casou-se com Zebelina Angeli, nascida em Santo Ângelo (RS), no dia 16/01/1904, filha de Francisco Angeli e Ana Martinazzo.
Pedro e Zebelina se estabeleceram ao sul do Vale do Rio do Peixe, no centro-oeste catarinense, próximo à fronteira com o Rio Grande do Sul.
Em vermelho, a região onde Pedro e Zebelina se fixaram após o casamento, realizado no início da década de 1920. O mapa também mostra a localização de Santo Ângelo e Anta Gorda, cidades natais de Zebelina e Pedro Antonio, respectivamente.
Naquela região nasceram os sete filhos do casal, que foram registrados nos distritos de Uruguai e Piratuba, atualmente pertencentes ao município de Piratuba (SC):
- João Batista;
- Geralda;
- Ana;
- Antenor;
- José;
- Nelly; e
- Gasparino.
Localização dos distritos de Uruguai e Piratuba, atualmente pertencentes ao município de Piratuba (SC), onde a família de Pedro e Zebelina fixou-se.
Depois, Pedro, Zebelina e os filhos fixaram residência no município de Caçador (SC), mais ao norte do Vale do Rio do Peixe.
Localização da cidade de Caçador, ao norte do Vale do Rio do Peixe.
Em 1947, o filho Antenor, que já era proprietário de uma livraria e também agente distribuidor de revistas e jornais em Caçador, recebeu um convite para visitar a cidade de Maringá, no Norte do Paraná. O convite foi feito por Vicente Vareschini, amigo da família que havia migrado para o Paraná há alguns anos e que, à época, já residia em Maringá.
Antenor chegou a Maringá no dia 24/12/1947 para conhecer a cidade. Ficou encantado com o progresso da cidade e enamorado pela irmã de Vicente, Lucrécia Vareschini.
Entre idas e vindas de Caçador a Maringá, Antenor resolveu mudar-se para Maringá em agosto de 1949 e, no mesmo ano, casou-se com Lucrécia. A cerimônia do casamento civil deu-se em 10/06/1950, em Caçador (SC).
Animado pelas notícias do rápido desenvolvimento do Norte do Paraná, Pedro e Zebelina também resolveram fixar residência em Maringá, ainda em 1950. Sua primeira residência na cidade situava-se na Rua Cleópatra, atual Rua José Jorge Abraão, no Maringá Velho.
As filhas Geralda e Ana, já casadas, permaneceram em Caçador. A filha Nelly havia falecido em 1936, com menos de três anos de idade.
Bom sanfoneiro, Pedro tinha um conjunto musical que animava bailes em Maringá.
Pedro Antonio Sanches foi o primeiro Agente de Loterias de Maringá. Sua lotérica ficava na esquina da Rua General Câmara (atual Rua Vereador Basílio Sautchuk) com a Avenida Brasil, denominada “Esquina da Sorte”.
Em 18/07/1956, de acordo com a sua Ficha Eleitoral, Pedro residia na Avenida Cerro Azul, nº 885.
Fotografia de Pedro Antonio Sanches em julho/1956. Fonte: Ficha Eleitoral/Gerência do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultural de Maringá.
Na década de 1960, sua filha Geralda também transferiu residência para Maringá.
Pedro Antonio Sanches faleceu em 10/12/1967, no Hospital São Vicente, em Curitiba (PR), onde estava em tratamento de saúde. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal de Maringá.
Seu último endereço residencial foi na Avenida XV de Novembro, nº 331, onde atualmente encontra-se construído o Edifício Central Park.
Sua esposa Zebelina faleceu no dia 28/03/1998, aos 94 anos de idade. Seu corpo também está sepultado no Cemitério Municipal de Maringá.
Seu filho Antenor Sanches se projetou como radialista, jornalista, servidor público municipal e vereador de Maringá por sete legislaturas, de 14/12/1956 a 31/12/1988.
Seu outro filho, João Batista Sanches, também foi vereador em Maringá, de 01/02/1983 a 31/12/1988.
Os filhos José Sanches Neto e Gasparino Sanches tiveram participação destacada em Maringá. José como economista e Gasparino com agente lotérico, que deu continuidade às atividades iniciadas pelo pai.
Dos sete filhos de Pedro e Zebelina, apenas Geralda Sanches está viva, com 101 anos de idade.
Fontes:
Arquivos da Câmara Municipal de Maringá.
Arquivos da Gerência do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Maringá.
Site: www.familysearch.org/pt/
Site: www.maringahistorica.com.br/
Site: www.wikipedia.org/