Com texto de Marco Antonio Deprá.
Na página 101 do Livro A saga do “Caboclo Violeiro”, de Dirceu Herrero Gomes e Donizete Oliveira, consta um depoimento de Walter Ferreira da Silva, ex-funcionário da Cafeeira Santa Luzia, em que diz que “pelo que sei, ele (Américo Dias Ferraz) também deu uma casa para dom Jaime Luiz Coelho (primeiro bispo) morar quando ele chegou a Maringá”.
Os autores do livro não esclarecem sobre a veracidade da informação. Por esta razão, informações foram solicitadas para a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – CMNP sobre o terreno onde foi construída a primeira residência episcopal da Diocese de Maringá.
A residência episcopal onde Dom Jaime Luiz Coelho residiu de 1957 a 1980 estava situada na Rua Lopes Trovão, nº 395, bem atrás do terreno onde seria construído o Hospital Santa Rita. No mesmo local também funcionava a Cúria Metropolitana.
Vista aérea parcial de Maringá, possivelmente em 1971. No círculo em vermelho vê-se a primeira residência episcopal da Diocese de Maringá.
A propriedade era formada pelos lotes 4 e 5 da Quadra 12 da Zona 4, com área total de 1.190,00 m².
O setor de arquivo da CMNP, em Cianorte (PR), não localizou o contrato de compra e venda dos lotes, entretanto, consta em seus registros, que os mesmos foram vendidos para Magdalene Traumann Bretz em 04/11/1955. Em pesquisa na internet, não foi possível obter informações sobre tal pessoa.
A Diocese de Maringá foi criada cerca de três meses depois, em 01/02/1956.
Pouco depois, em 06/07/1956, os direitos dos lotes 4 e 5 foram transmitidos em favor da Mitra Diocesana de Jacarezinho, mas não há mais informações sobre tal transação nos registros da CMNP.
A Diocese de Jacarezinho foi consultada sobre esta transação. Em resposta datada de 06/10/2021, o Padre Luiz Fernando Lima informou que, consultando os livros de registros daquela Diocese, não localizou nenhuma informação a respeito. Disse que uma explicação razoável para essa omissão é que o período coincide com a finalização e inauguração da Catedral de Jacarezinho, de modo que praticamente as informações daquela época estão concentradas apenas nesta questão, ficando as outras relegadas a um segundo plano.
Porém, consultando o Livro Tombo da Catedral de Maringá, há um detalhado registro sobre a compra da casa que serviria como residência do primeiro bispo.
Segundo relatado no livro, coube a Carlos Giebel, vigário da Paróquia Nossa Senhora da Glória, encontrar uma casa apropriada. Foram oferecidas diversas casas à venda. As mais próprias e idôneas eram as casas de Américo Dias Ferraz, à época prefeito de Maringá, e a do então vereador Alceu Hauare. A primeira era pequena demais e foi oferecida a um preço alto. A outra era boa e espaçosa, mas também era cara demais. Assim, o vigário acabou comprando uma casa em construção pertencente ao engenheiro Philippe Bretz, possivelmente esposo de Magdalene Traumann Bretz, proprietária do terreno. Em seguida, o vigário negociou com a CMNP a quitação do débito relativo ao terreno.
O projeto inicial da casa em construção teve que ser ampliado para comportar a residência episcopal e a Mitra Diocesana. À época, a Câmara Municipal prometeu um auxílio, mas não cumpriu jamais tal promessa. A CMNP, através de Hermann Moraes Barros, concedeu um auxílio a ser pago em três prestações e, além disto, doou um terreno de 10.000 m² situado na Zona 5, onde mais tarde foi construída a atual residência episcopal.
Dom Jaime foi eleito bispo pelo papa Pio XII em 03/12/1956. Sua posse deu-se no dia 24/03/1957.
Instalada a nova Diocese, os direitos dos lotes 4 e 5 foram transferidos para a Mitra Diocesana de Maringá em 17/07/1957. A escritura definitiva foi outorgada no 1º Tabelionato de Maringá, no livro 136 às fls. 188 em 24/02/1964, tendo como transmitente a CMNP, conforme descrito na Transcrição nº 2769, livro 3/D, de 21/09/1964, do 2º CRI.
Após as pesquisas realizadas, ficou claro que Américo Dias Ferraz não doou a propriedade para a Mitra. O fato é que, documentalmente, a propriedade foi transferida da CMNP, empresa que colonizou a região, para a Mitra de Jacarezinho, sem a interveniência de qualquer outra pessoa.
Como já relatado acima, D. Jaime residiu na propriedade da Rua Lopes Trovão, 395, desde a sua chegada a Maringá, em 24/03/1957, até 22/11/1980, quando se transferiu para a nova residência episcopal construída na Praça Dom Manoel da Silveira D´Elboux, 479, onde residiu até o seu falecimento, em 05/08/2013, no mesmo terreno doado pela CMNP em 1956.
Um pouco sobre a primeira casa episcopal
A primeira residência episcopal foi construída nos fundos do terreno da Rua Lopes Trovão, 395. Ampla, era composta por cinco salas, três escritórios, quatro quartos, copa, cozinha, quatro banheiros, dois depósitos e um abrigo para veículos.
Planta baixa da primeira residência episcopal situada na Rua Lopes Trovão, 395.
Fachada principal da primeira residência episcopal.
Nos fundos do terreno, também havia uma edícula, com uma sala, dois quartos, um banheiro e uma cozinha.
Planta baixa da edícula construída no fundo dos lotes 4 e 5.
Posteriormente, a Mitra adquiriu o lote nº 16, anexo aos lotes 4 e 5, com frente voltada para a Rua Princesa Isabel, com área de 633 m². Neste terreno foram erigidas duas construções. A maior, com seis quartos e dois banheiros. A menor, mais antiga, com um depósito e um banheiro.
Planta baixa da construção erigida no lote nº 16, anexo aos lotes 4 e 5 da quadra 12 da Zona 4.
Imagem Google Earth – Em azul os lote 4 e 5. Em amarelo o lote 16.
A partir de março de 1959, a residência episcopal foi dirigida pelas Irmãs de Santo Antônio Maria Claret, ou simplesmente Irmãs Claretianas. Lideradas pela Madre Lícia Di Lucca, as irmãs permaneceram nesta função até 1968.
A partir de 1973 até 2009, a residência episcopal passou a ser administrada pela Irmã Maria Adelheid Gintem (Maria Dietlinde) da Congregação das Irmãs Missionárias do Santo Nome de Maria. Era ela quem organizava todos os documentos, correspondências, artigos, fotos e todo o arquivo pessoal de D. Jaime.
Como já relatado anteriormente, o imóvel serviu como residência episcopal até 22/11/1980, quando D. Jaime passou a residir na nova residência construída na Praça Dom Manoel da Silveira D´Elboux, 479.
A partir de 24/03/1984, a Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Maringá passou a funcionar em um novo prédio inaugurado naquela data na esquina das Avenidas Tiradentes e Duque de Caxias, no terreno onde anteriormente havia a Casa Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Glória.
Em 18/12/2006 o imóvel da Rua Lopes Trovão foi vendido pela Mitra Arquidiocesana de Maringá para a empresa J. J. Agropecuária Ltda., pertencente a membros da família Meneguetti, através de Escritura Pública registrada no Cartório de Registro de Imóveis em 02/02/2007.
Possivelmente foi depois desta transação que as construções existentes no terreno foram demolidas. De acordo com imagens do Google Earth isto ocorreu entre junho/2005 e Abril/2010.
De acordo com requerimento de 15/06/2012, houve a fusão dos terrenos 4 e 5, com aérea de 1.190,00 m², com os seguintes lotes:
- 2 e 3, com área de 1.181,00 m²;
- 16, com área de 633,00 m²;
- 17, com área de 633 m²;
- 22, com área de 608,00 m².
Com a fusão, foi formado um lote com área total de 4.245,00 m², sob a matrícula nº 99.811, que ainda pertence a membros da família Meneguetti. Na maior parte do terreno está implantado um estacionamento para veículos.
Fonte: acervo de Marco Antonio Deprá.