Praça Napoleão Moreira da Silva - Década de 1970

1970


Esta praça foi prevista no plano original da cidade, ainda na década de 1940. Traçado pelo urbanista Jorge de Macedo Vieira, a proposta previu a instalação de um grande logradouro público na confluência das avenidas Brasil e Duque de Caxias e das ruas Santos Dumont e então General Câmara, hoje Basílio Sautchuk. Ocupando toda a Quadra 15, da Zona 1, a praça foi projetada para usada pela Estação Rodoviária, a qual entrou em funcionamento em meados de 1947. Por essa razão, e sem que tenha sido nomeada pela Companhia de Terras Norte do Paraná, colonizadora da cidade e região, este logradouro acabou conhecido como praça da Rodoviária. 

A rodoviária acabou funcionando neste local até meados do início da década da 1960, quando uma estrutura provisória entrou em funcionamento na avenida Tamandaré, em frente à praça Raposo Tavares. Em outubro de 1962, o moderno edifício da rodoviária seria inaugurado neste local.

É necessário destacar que o nome de praça da Rodoviária permaneceu por volta de dez anos apenas. O espaço público seria oficialmente nomeado em 1957. No dia 10 de abril daquele ano, Napoleão Moreira da Silva retornava do Rio de Janeiro, então sede do governo federal, onde havia estado com deputados federais paranaenses da UND. Ao sobrevoar o litoral paulista, o Douglas DC-3, que atravessava uma tempestade, colidiu contra o Morro do Papagaio, na Ilha Anchieta, em Ubatuba. Quem reconheceu o corpo de Napoleão carbonizado foi o dentista e genro da vítima, Laércio Nickel Ferreira Lopes.

Estarrecidos, a comunidade política do Município decidiu por homenagear o personagem que havia chegado por aqui na década de 1940, nomeando esta como praça Napoleão Moreira da Silva, por meio da lei municipal nº 32, em 4 de maio de 1957.

Dentre várias ações, merece destaque a benfeitoria que foi promovida no início dos anos 1960, quando surgiram as características e formatos que conhecemos na atualidade. Naquela década, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná contratou o arquiteto José Augusto Bellucci para desenvolver um projeto de urbanização deste logradouro. O paulista já havia concebido outras propostas pela cidade, como o Grande Hotel Maringá, o Maringá Clube, a Catedral Nossa Senhora da Glória. 

Segundo os arquitetos Renato Leão Rego e Adriano Braz Contardi, que analisaram o projeto arquitetônico deste logradouro, a proposta apresentada por Bellucci recomendou uma praça dividida em vários setores, caracterizados por dinâmica, paisagismo e equipamentos próprios. A "ilha" central é destinada ao estar e à contemplação, com um efeito realçado por sua cota de altura mais elevada. Ainda temos o "pátio" e uma grande área livre servida por bancos sinuosos, além de um playground destinado ao lazer, e uma proposta densamente arborizada que retoma a ideia do antigo bosque.

O piso original também merece atenção: enquanto na "ilha" as placas de concreto eram espaçadas por juntas permeáveis, o seu entorno possuía um piso uniforme, pavimentado com ladrilho hidráulico.

A praça foi projetada entre 1957 e 1961. Portanto, antecedendo ao embate que se daria entre a Companhia e o prefeito Américo Dias Ferraz, a empresa já previa executa a benfeitoria no local. É provável que tenha interrompido a ideia para retomar assim que tivesse maior relacionamento com o Poder Executivo Municipal, fato que se daria com João Paulino Vieira Filho, prefeito eleito em 1960. 


A composição feita por Bellucci indica uma alusão à brasilidade ao enfatizar o emprego de espécies tropicais e vegetação agreste. A que mais foi destacada é a palmeira imperial, cujas mudas foram plantadas na "ilha", alinhadas em um eixo e serpenteadas por um banco sinuoso de concreto, enfatizando o caráter visual e simbólico deste espaço. Esta ideia apareceu na obra de Burle Marx em 1935, no projeto da praça Euclides da Cunha, no Recife.

A vegetação também contribui para o aspecto funcional no projeto. Por meio do tipo de copa das árvores indicadas obteve-se áreas de sombreamento mais denso e esparso, com os flamboyants ao redor, e ainda, permitindo muita luz no pátio. Além disso, com o uso de sibipirunas, um perímetro de transição foi obtido entre o interior multi espécies e o exterior, mais homogêneo. A locação de esculturas foi definida em projeto, articuladas com o paisagismo e a iluminação, proporcionando uma ambientação de destaque. 

A inauguração da praça Napoleão Moreira da Silva ocorreu em maio de 1962, durante as festividades dos 15 anos da cidade. O local também recebeu um projeto de iluminação bastante diferenciado, o que lhe transformou em um ponto de visitação diurno e noturno. 

Foi naquele contexto que o médico Waldemar Prandi, que também era afeto às artes plásticas, concebeu um busto do homenageado. Mas era necessário investir 120 mil cruzeiros para adquirir, a partir do molde feito pelo artista, o busto em bronze para ficar exposto no logradouro. Dessa feita, 53 pessoas doaram valores diversos para viabilizar o reconhecimento público a Napoleão Moreira da Silva.

O busto foi produzido pela Fundição Bronzes Artísticos J. Rebellato, em São Paulo, tendo sido entregue em 7 de maio de 1962. Entretanto, o mesmo só foi oficialmente inaugurado 10 anos depois, com a presença do então prefeito Adriano José Valente e da viúva do homenageado, Armelinda Fernandes Moreira. 

Logo, como pode se perceber, esta foi a primeira praça a receber uma urbanização com arquiteto de referência em nossa cidade. Embora outros logradouros já contassem com delimitação e mínima urbanização, como no caso da Raposo Tavares, foi na Napoleão Moreira da Silva que a cidade se viu mais cosmopolita. 

A primeira foto mostra detalhes da praça, possivelmente, na década de 1970. À direita dois jovens surgem sentados nos bancos sinuosos, entre as palmeiras imperiais; a segunda apresenta o anteprojeto elaborado por José Augusto Bellucci; a segunda mostra o projeto executivo deste logradouro.  

Fontes: A conformação da praça modernista, de Renato Leão Rego e Adriano Braz Contardi / JOSÉ AUGUSTO BELLUCCI. Projeto para a praça Napoleão Moreira da Silva. Acervo Biblioteca FAU USP (Catálogo de projetos de arquitetura) / Acervo Família Ferreira Lopes / Acervo Maringá Histórica. 

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