A foto é do pioneiro Antônio Manfrinato, falecido em 15 de outubro de 2022. Junto com a esposa Valéria e dois dos seis filhos, ele chegou a Maringá em 10 de abril de 1947, quando tinha apenas 24 anos de idade.

 Manfrinato veio de Alirá, distrito de Cambará, na divisa do Paraná com o estado de São Paulo. "O nome bonito da cidade, a água boa de beber e a vontade de encontrar terra nova para plantar trouxe a gente até aqui. A gente não queria mais saber de cultivar terra velha, cansada", explicou o pioneiro em entrevista para o livro “Maringá, Meio Século de História”, projeto de O Diário do Norte do Paraná que foi executado em 1997.

Manfrinato começou a trabalhar como peão, "derrubando mato", em uma grande área que era do gerente geral da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, Aristides de Souza Mello, onde hoje está instalada a Universidade Estadual de Maringá.

O paranaense conta que morou 29 anos no terreno de 36 alqueires. No início, ajudou a "formar" o café, depois trabalhou como "porcenteiro", ficava com 40% da produção. Nos últimos 23 anos, foi administrador do sitio. 

Segundo o antigo morador, os primeiros anos na cidade recém-formada foram difíceis. A falta de transporte e de oferta de artigos de uso pessoal era grande. Manfrinato explica que existiam os secos e molhados, lojas que vendiam de tudo, de comida a sapato e até remédio.

"Mas não tinha coisa boa e era caro. O trem só chegava até Apucarana. A gente ia uma vez por ano a outra cidade para comprar roupa e calçados. No primeiro ano, em 1947, fui de cavalo até Mandaguari. Foi um dia para ir e voltar. Depois, chegou o ônibus na cidade e começamos a ir até Apucarana". 

O trabalho tomava quase todo o tempo de Manfrinato. Mas, com o passar dos anos, deu para unir o útil ao agradável. Ele gostava muito de passear a pé pela mata. Costumava andar muito para chegar aos lugares e sempre através de picada. Pelo caminho aproveitava para cortar palmito. Com isso, levantava "um dinheiro a mais", para suportar as despesas da entressafra, época em que não colhia.

Foi nessas andanças também que ele conheceu o pessoal do time de futebol do qual fez parte: o Morangueira. O pioneiro conta que o time surgiu junto com a construção da Igreja Santo Antônio. Quando o terreno em volta começou a ser aberto, foi feito um campo e as pessoas que se reuniam ali formaram o time.

"Jogamos em diversos lugares, conhecendo sempre gente nova. Fomos a Astorga, Aquidabam, Keli, Cambui, ao Dez e Mandaguaçu, que nessa época se chamava ainda Calaboca. Aliás o lugar teve muitos nomes antes de virar cidade e se chamar Mandaguaçu", lembra.

Dois lugares onde havia sempre festa também estão marcados na memória de Antônio Manfrinato. O primeiro era na Vila Operária, na avenida Brasil. Ele conta que, em 1947, colocaram um alto falante num mastro de peroba, que tocava música caipira para o pessoal dançar. O outro foi aberto em 1948. Era um salão de baile na atual Vila Santo Antônio. Lá havia baile todo domingo, a partir das 14 horas e um campo de bocha.

"As bolas eram feitas com facão, que entalhava a madeira. Elas trupiavam na pista, por causa dos buracos que o facão deixava. A gente apostava cigarro. Quando cansava, ia dançar. Era ambiente familiar, todos amigos”.

Manfrinato também recorda "o primeiro divertimento de montaria" promovido em Maringá. As autoridades da cidade montaram uma roda de madeira, onde hoje é a rodoviária, para fazer o que chamavam de toreada. O povo assistiu das arquibancadas.

Ela também lembra que, primeiro, os peões toreavam os bois, com pano vermelho. Depois montavam os animais já cansados e laçavam os garrotes. Nessa festa também veio à cidade a primeira dupla caipira, Zé Carreiro e Carreiro, de São Paulo. Houve um detalhe importante nessa ocasião, que fez ela inesquecível para Manfrinato:

"Montaram a primeira roda gigante que veio para Maringá. Não tinha energia elétrica. Ela funcionava com gerador e motor. Eu e um amigo resolvemos andar na hora exata que a máquina quebrou. Ficamos uma porção de tempo preso lá em cima, bem no alto, até que o técnico chegou para tirar a gente. Foi a primeira e última vez que subi numa roda gigante", confessou Antônio Manfrinato.

O paranaense também ajudou a carregar o cruzeiro na inauguração do cemitério de Maringá e sepultar a primeira criança que foi enterrada lá. Toda essa trajetória faz do município um lugar importante na vida de Manfrinato. Ele confessa que, há trinta anos, ninguém imaginava que Maringá chegaria a ser a metrópole que é hoje (fala dada em 1997).

"Fico surpreso de ver como todo aquele trabalho da gente de abrir mata e plantar, pode ter dado origem a essa cidade grande, famosa pelo verde. Nunca esperamos que ela crescesse tanto. Ver a Maringá, de hoje, me deixa orgulhoso de ter chegado aqui, quando ela estava começando", concluiu.

Fonte: Livro - Maringá, Meio Século de História, de O Diário do Norte do Paraná, lançado em 1997 / Acervo do jornalista Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.

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