2008
Com texto de Marcelo Bulgarelli.
Esta foto seria de um barraco no Conjunto Santa Felicidade em Maringá. Ela foi inserida no site do Ministério das Cidades em 2008 como uma justificativa para o desfavelamento do bairro. Os moradores, segundo o projeto, teriam novas casas em outros locais de Maringá com o fim da “favela”.
Acontece que a foto era falsa. Não se tratava do Santa Felicidade, pois não havia registro de favela naquele local. A “fraude” foi denunciada pela ONG Mães de Vítimas de Violência - Justiça e Paz, que há anos trabalha com os moradores do bairro. Na época, ainda não se usava a expressão “fake news".
O que seria alegria para os moradores do bairro deu lugar para a desconfiança e revolta. O município havia sido contemplado com R$ 20 milhões do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal. Os recursos – que somados com as contrapartidas do estado e do município chegavam a R$ 25 milhões - eram destinados para o desfavelamento em áreas de risco. Porém, no caso do Santa Felicidade, o bairro era urbanizado e não poderia ser considerado uma favela.
A preocupação aumentou quando os moradores foram informados que haveria a intenção da prefeitura em promover a remoção de parte daquela população. Em troca, o município estaria oferecendo novas casas em outras localidades.
No Santa Felicidade havia moradores que ali estavam há mais de 30 anos. Alegavam que pagam IPTU e não queriam abrir mão de um bairro que está próximo do centro da cidade, perto de seus locais de trabalho e do hospital municipal.
O conjunto, em 2008, contava com 267 residências, algumas com até duas famílias. Foi construído na década de 1970 com recursos do extinto Banco Nacional da Habitação, o BNH, dentro de um projeto de desfavelamento da cidade. O bairro está a menos de cinco quilômetros do centro em um local considerado nobre, perto do antigo aeroporto e de condomínios fechados.
Na época, a Gazeta do Povo entrevistou o jardineiro Elídio Alves dos Santos, 71 anos, morador do Santa Felicidade desde 1977. A rua em que morava era igual a muitas outras do bairro: asfalto, casas de alvenaria e conta com serviços de água e esgoto. Em nada lembra uma favela. A residência de 117 metros quadrados foi construída ao longo de 30 anos e ele não aceitou a ideia de desfazer do patrimônio. “Me ofereceram uma casa de 40 metros quadrados e eu não quero isso. Minhas filhas cresceram aqui”, acrescentou.
Fontes: Acervo da Gazeta do Povo com reportagem de Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.
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