Três semanas depois da reportagem “Dallas no Paraná”, publicada pela revista Veja, foi a vez do colunista Diogo Mainardi criticar a cidade Maringá no artigo “De rodeios e livros”. Ele compara a cultura de uma cidade italiana com as “texanas” brasileiras.  

O artigo saiu na Veja de 9 de junho de 1999.

"De rodeios e livros

De 3 a 6 de junho, Veneza se tornou a "cidade dos leitores". Intelectuais do mundo inteiro foram convidados a participar de uma série de debates em praça pública, gente como o português José Saramago ou o francês Maurice Olender. Apareceu até mesmo a velha cantora americana Patti Smith, com seu espetáculo poético-musical. O festival literário veneziano, a partir de agora, vai se repetir anualmente. É um projeto de Daniele Del Giudice, um dos poucos escritores italianos contemporâneos que realmente precisam ser lidos. Na semana anterior, na cidade de Reggio Emilia, a uma hora de distância de Veneza, aconteceu outro festival literário. Como todos os anos, durante três dias, críticos consagrados se reuniram com jovens autores para escutar e comentar as suas obras inéditas. Em Mântua, também há um festival literário. É o mais importante do pais. Em Viareggio, por outro lado, conferem um dos mais prestigiosos prêmios literários italianos.

Digo essas coisas pensando numa reportagem publicada em VEJA três semanas atrás. Nela, mostra-se a prosperidade de algumas cidades do interior do Brasil, como Maringá e Uberaba. Essas cidades gostariam de ser texanas. Uma tabela, de fato, compara-as a Arlington, no Texas. demonstrando que possuem mais ou menos o mesmo número de habitantes, o mesmo índice de analfabetismo, a mesma renda per capita, a mesma taxa de homicídios. Acima de tudo, a exemplo de Arlington, as nossas cidades interioranas têm rodeios e música caipira. Acho que Maringá e congêneres escolheram o modele errado, infelizmente. Reggio Emilia, por exemplo, uma cidadezinha agrícola no interior da Itália, do mesmo tamanho que Maringá, é muito mais rica que Arlington, muito mais segura e, ainda por cima faz o melhor queijo que existe Em vez de rodeios, portanto, Maringá deveria estar financiando um festival de literatura. Custa menos, sem dúvida, do que uma picape importada.

Acredita-se que, quanto mais desenvolvido é um país, mais os seus habitantes leem.  Eu inverteria a equação: quanto mais os habitantes leem, mais um país se desenvolve. Se Maringá conseguisse dobrar se índice de leitura, em poucos anos também dobraria sua produção de soja ou café. É uma teoria desprovida da mais mínima base cientifica, mas eu estou disposto a apostar com quem quiser. Não funciona com qualquer escritor, claro. Digamos um Thomas Mann. Se todos os maringaenses se pusessem a ler um romance do alemão por mês, a cidade enriqueceria, diminuiria pela metade o número de homicídios e melhoraria o fornecimento de água encanada. Eu iria ainda mais longe. O Brasil tem uma infinidade de emergências sociais. Em certas circunstâncias, porém, uma biblioteca é mais útil do que uma escola, uma creche ou um hospital. Certamente somos muito mais carentes em matéria de leitura do que em saúde pública. E mesmo que nada disso seja verdadeiro, posso contar ao menos com uma certeza: talvez literatura não faça bem, mas também não faz mal. O mesmo não pode ser dito a respeito de rodeios ou música caipira."

A pesada crítica fez com que muitos maringaenses reagissem à época, escrevendo em resposta a Diogo Mainardi. 

O que o colunista se esqueceu de levar em consideração, ao comparar Maringá, na época com 52 anos, com as cidades do “velho mundo”, é que estas, em sua maioria, possuem séculos de existência, de amadurecimento cultural e intelectual. 

Por essa razão, Mainardi talvez devesse escrever novo artigo para analisar o que avançamos de 1999 até os dias de hoje: diversas edições da Festa Literária Internacional de Maringá, a Flim; muitos espetáculos artísticos gratuitos em diversos cantos; sem contas as iniciativas independentes que estão explodindo por aqui. Nesse contexto, necessário lembrar que fomos considerados por diversas oportunidades não só a melhor cidade do Brasil para se viver, como também a melhor para se investir, a mais transparente em responsabilidade fiscal e uma das mais seguras. 

Fica o convite ao colunista para também conhecer agora o “Eurogarden Maringá”. Afinal, aqui sempre foi uma cidade que as pessoas quiseram morar, mas não sabiam onde ficava. 

Fontes: Revista Veja de 9 de junho 1999 / Acervo do jornalista Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.

Outras publicações:

A Cidade que Nasceu de uma Canção - 1972

Alunos do então Científico do Colégio João XXIII - 1977