1983
Maringá teve vários maestros ilustres. Um deles foi Paulo Giovanini, falecido em 20 de fevereiro de 2003, aos 77 anos, no Hospital Santa Rita, devido a uma miocardiopatia (problemas no coração).
Na época, amigos próximos comentaram que a saúde do músico havia piorado depois da perda da esposa, Edna Gagliardi Giovanini, cinco meses antes.
“É uma perda inestimável para Maringá. É o único músico erudito que vivia da arte de tocar. Não era apenas um professor. Fazia arranjos maravilhosos”, resumiu a bailarina Flor Duarte, durante o velório. “Toda vez que eu chegava, ele tocava “The Man Who I Loved” (uma canção da ópera Porgy and Bess, de Gershwin).
Natural de Birigui, interior de São Paulo, Giovanini estava radicado em Maringá desde 1983, quando começou a lecionar na UEM. Considerado um mestre por diversos músicos, teve sua competência reconhecida em vida ao dar nome a famoso Concurso Nacional de Piano Paulo Giovanini, promovido pelo Colégio e Conservatório Musical Santa Cecília, em Araçatuba. “Giovanini é um exemplo de competência e dedicação, um mestre tão conhecido pelas suas notáveis qualidades musicais”, ressaltavam os organizadores do evento.
Todos os programas do concurso de Araçatuba eram organizados sob a orientação dele. “Nós sabemos das qualidades dos candidatos estabelecendo um critério de seleção a partir da própria escolha da peça. É o próprio programa que seleciona, garantindo também o alto nível do concurso”, explicou Giovanini, durante uma entrevista concedia ao O Diário do Norte do Paraná em outubro de 1998.
A importância do concurso que leva o nome do grande pianista pode ser verificada pelas personalidades que já estiveram na banca de jurados: Claudia Knafo (vencedora de concursos internacionais e que debutou no Carnegie Hall’s Weil Recital Hall, solista da Manchester festival Orquestra), o pianista Gilberto Tinetti (ex-aluno de Magdalena Tagliaferro e considerado como o melhor camerista brasileiro em piano) e Mauricy Martin (já atuou sob a regência de Benito Juarez, Lutero Rodrigues, Julio Medaglia e Eduardo Ostergreen).
De formação erudita, Giovanini estudou na Europa por seis anos graças a uma bolsa de estudos do então Ministério da Educação e Cultura (MEC). Foi aluno de Carlos Zecchi na Itália e de Margherite Long, na França. Na televisão, marcou passagem como arranjador da orquestra de estúdio da extinta TV Tupi, em São Paulo.
Foi amigo de Silvio Caldas e de Lupicínio Rodrigues. O autor de “Nervos de Aço”, segundo Giovanini, tinha “um grande caráter”. Na Tupi, era o maestro do programa “Antarctica no Mundo dos Sons”. “Quando o artista é bom, ele é simples. Se for ruim, é metido a besta”, comentou ele ao relembrar aquela época.
Na galeria de grandes mestres, Giovanini mencionava os nomes de Cláudio Santoro, Almeida Prado, Camargo Guarnieri, Guerra Peixe e os populares Tom Jobim e Edu Lobo. Ele lamentava que não podia gravar em CD uma música de Jobim. “Estão cobrando 5 mil reais pelos direitos autorais de cada música”, reclamou, certa vez.
Entre as diversas recordações, surgia o nome de José Klias, responsável pela sua formação musical. Ele foi um mestre acolhido pelo Brasil após a segunda Guerra Mundial. Klias foi o responsável por uma geração de grandes pianistas como Artur Moreira Lima.
Mesmo aposentado, Giovanini ainda lecionava em sua residência e era presença querida nas terças, sextas e sábado no Hotel Deville, onde se apresentava com um repertório popular. Sua última apresentação em público aconteceu em dezembro de 2002, numa solenidade dos “Amigos do HU (Hospital Universitário)”, evento ocorrido na Sociedade Médica de Maringá.
Poucos dias antes de morrer, Giovanini recebeu, no hospital, a visita da jovem pianista Denise Pimentel, uma discípula e grande amiga. Giovanini sempre incentivava Denise a estudar na Europa. “Ela tem uma técnica extraordinária. O aluno tem que ter música por dentro. É nata, não é técnica. A técnica se adquire”, disse o mestre.
Fontes: O Diário do Norte do Paraná por Marcelo Bulgarelli em 21 de fevereiro de 2003 / Acervo Maringá Histórica.
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