Transporte da Locomotiva 608 - 1973

1973



Sem dúvidas, essa é a foto mais rara que já publicamos até a presente data. 

Trata-se do transporte da Locomotiva 608, popularmente conhecida como "Maria Fumaça", do pátio de manobras ferroviárias, localizado próximo da avenida Tamandaré, até o Parque do Ingá. Trabalho que foi executado em janeiro de 1973.

Quem nos dá detalhes dessa complexa operação é José Carlos dos Santos. Filho de Marcilio dos Santos, ferroviário que chegou em Maringá no ano de 1955, José Carlos presenciou aquele trabalho que, embora tenha chamado muito a atenção, nunca havia sido revelado por meio de uma foto.


"[...]

Me lembro que houve um verdadeiro mutirão de cabeças pensantes para resolver a questão. Engenheiros (vindos de Ourinhos, Wenceslau Brás, Curitiba para ajudar o engenheiro de Maringá), supervisores, feitores, trabalhadores, enfim... uma maratona. Na época havia o “Serviço Volante Mecanizado”, que era o responsável pela realização dos trabalhos mais urgentes e importantes na conservação da via. Eles trabalhavam no trecho de Uraí a Cianorte e de segunda a sexta feira, acampavam em um comboio que tinha toda a estrutura necessária para acolher a equipe, que não era pequena, e contava com Supervisor, feitores, carpinteiros, metalúrgicos, secretário, cozinheiros etc. 

Por conclusão do time de pensantes, essa equipe da chamada “Mecanizada” foi escalada para conduzir a locomotiva até o Parque do Ingá, até porque, era um trabalho que exigia gente especializada e eles eram mestres nisso.

O plano era bem simples. A locomotiva seria retirada do pátio, em noventa graus atravessando a avenida Tamandaré para a Avenida Herval (na época todo o pátio ferroviário naquela área que ia até a Avenida São Paulo era cercada por um muro e exatamente naquele ponto tinha um portão de entrada para os caminhões retirarem as cargas dos vagões e passar por uma balança que havia ali), seguiria pela avenida Herval, na pista direita no sentido de quem vai da Tamandaré para a Tiradentes, até a Arthur Thomas, onde, na esquina do Fórum, faria uma conversão à esquerda, e além disso era necessário que o enorme veículo fosse virado em 180 graus, seguindo em marcha ré, até chegar ao interior do parque, no local onde está até hoje.

Um exército de homens trabalhou por três dias e duas noites. Ferroviários, funcionários da prefeitura, engenheiros supervisionando em tempo integral. Como foi feito o deslocamento? Construía-se um pequeno trecho de linha férrea, idêntico à ferrovia, sem as pedras, uma moto niveladora, chamada popularmente de “Patrola”, puxava a locomotiva para o trecho construído. Feito isso, os homens desmanchavam a linha que tinha ficado para trás e a reconstruíam na frente mais uma vez. 

Considerem que essa construção foi feita com trilhos tipo 32 (hoje se usa na ferrovia trilhos 55), ou seja pesava trinta e dois quilos por metro e, as barras de cada trilho individualmente tinha seis metros e eram deslocadas de traz para a frente da obra com força braçal, sem contar com os pesadíssimos dormentes de madeira de lei, que sustentavam os trilhos e precisava de dois homens para move-lo de um lado para outro. O maior desafio e exaustivo trabalho era fazer a curva de 90 graus. Era necessário ir e voltar várias vezes, como fazemos quando manobramos o carro em lugar apertado. 

Considere que os rodeiros da pesada máquina a vapor não esterçiam, valorizando o número de vezes no ir e vir, até que se completasse a virada. Dá-lhe construir linha férrea pra lá e pra cá.
Eu tinha na época 16 para 17 anos e trabalhava na Caldeiraria Brasil na Vila Operária. Como morávamos no pátio da RFFSA, era meu caminho, pela manhã, no meio dia e a tarde, antes de ir para o Colégio Paraná, dar uma passadinha por lá com minha “magrela” para também dar a minha “fiscalizada” no serviço daquela multidão.

Com essa última restauração e conversando sobre isso com o meu pai em seus últimos dias de Santa Casa, combinamos que, quando saísse do hospital, iriamos até lá para ver como tinha ficado o serviço. Infelizmente não cumprimos o compromisso, o meu pai faleceu em 31 de julho último, trinta dias depois de completar 84 nos de idade.

O pai era o Supervisor (Mestre de Linha) da “Mecanizada” e esteve à frente dos serviços em tempo integral, junto a tantos outros homens que se doaram para que o maringaense do futuro possa ter ao alcance dos olhos, um importante pedaço da nossa história.

Não tenho certeza, mas o popular Nelsão, carinhosamente chamado pelo seu porte físico avantajado, era feitor da “Turma Mecanizada” e parceiro do pai de muitos anos, também fez parte da equipe. O Nelson Lopes de Azevedo é pai do hoje Secretário do Meio Ambiente e Bem Estar Animal, Marco Antônio Lopes de Azevedo.

Homenagens a estes valorosos homens que anonimamente fazem parte da Maringá Histórica."

Fonte: Contribuições de José Carlos e Felipe Santos / Acervo José Carlos / Acervo Maringá Histórica. 

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