1961
No dia 13 de agosto de 1961, Maringá foi palco de um dos maiores confrontos do norte do estado. Em pauta: a reforma agrária.
A revista Panorama (setembro, 1961) produziu o maior relato desse embate político. Foram 96 horas de trabalho por parte de seus repórteres para coletar informações e opiniões de todos os envolvidos: governo, igreja, partidos políticos, estudantes e camponeses.
Os bispos de Jacarezinho, Londrina, Maringá e Campo Mourão, liderando a Frente Agrária Paranaense (FAP), estavam decididos a estabelecer um divisor de águas e criar no sul do país um sistema organizado para acabar com as Ligas Camponesas que ameaçavam a liderança da Igreja católica nos núcleos rurais.
Os representantes dos camponeses organizaram o II Congresso de Lavradores e Trabalhadores Rurais em Maringá, entre os dias 12 e 15 de agosto. Meses antes, houve o comentário de que além do presidente da república, o Deputado Francisco Julião e Fidel Castro estariam presentes no evento. A expectativa, então, foi de que cinco mil trabalhadores estariam na “Cidade Canção”.
Ante esses rumores, os bispos do norte do Paraná trataram de organizar uma concentração de trabalhadores rurais durante os dias do II Congresso. Assim, no dia 13 de agosto, a Festa da Lavoura foi iniciada pela FAP.
A verdade é que o presidente da república não veio, mas enviou Nestor Duarte, líder do governo na Câmara dos Deputados, para representá-lo. Ele, no entanto, não sabia qual dos dois eventos deveria participar. Por outro lado, a comitiva do estado, representando o então governador Ney Braga, se recusou participar do II Congresso dos Trabalhadores Rurais. Eles vieram para a cidade para presenciar a Festa da Lavoura da FAP. Além deles, Francisco Julião, então presidente das Ligas Camponesas de Pernambuco e um dos principais líderes da esquerda do país, veio para prestigiar o II Congresso dos Trabalhadores Rurais.
José Rodrigues dos Santos, presidente da comissão organizadora do II Congresso de Trabalhadores Rurais. Ele foi um importante sindicalista e ocupou a cadeira de Bonifácio Martins, no cargo de vereador. Era o Sindicalismo Rural começando a se organizar.
Participantes da Festa da Lavoura - FAP
Pela FAP, após a Missa Campal, os milhares de participantes da Festa da Lavoura foram servidos com um grande churrasco. Depois, ocorreu uma gigantesca carreata puxada pela fanfarra do Ginásio Marista de Maringá. Depois, as cerca de dez mil pessoas se aproximaram do palanque para ouvir as palavras do então prefeito de Maringá, João Paulino Vieira Filho, Jucundino Furtano, que leu a mensagem do então governador Ney Braga, Paulo Pimental, representante pessoal do Ney Braga e Dom Jaime Luiz Coelho, bispo de Maringá, que informou ao público que eles não autorizaram o representante do presidente da república usar a palavra, pois faria o mesmo no II Congresso dos Trabalhadores Rurais.
O embate entre os participantes do evento foi inevitável. Os participantes da Festa da Lavoura (FAP – Igreja) entraram em confronto com a polícia no dia 14 de agosto. Muitos feridos, prédios e estruturas danificadas, tiros, bombas. O cel. Haroldo Cordeiro teve trabalho para conter as exaltações.
O cel. Haroldo Cordeiro mostra o resultado de um tiro desferido por representantes da FAP, por sorte ninguém se feriu.
Fonte: Revista Panorama – setembro de 1961 / Acervo Maringá Histórica
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